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Sonho da casa própria
Para muitos brasileiros que deixam o Brasil para tentar a sorte no exterior, o objetivo é fazer um bom pé de meia para voltar para casa numa situação financeira melhor. A compra de uma casa certamente está entre os sonhos de consumo de muitas dessas pessoas. Com a grande diferença entre o custo de vida (e dos imóveis) na Europa e no Brasil, muita gente que veio ao Reino Unido com essa idéia tem conseguido colocá-la em prática. Juntar dinheiro em libras para comprar um imóvel em reais facilita a tarefa.
A mineira Regina Cely Barbosa, 39, chegou a Londres, há um ano e meio, já com a idéia fixa de aprender inglês e juntar dinheiro suficiente para comprar um apartamento em Belo Horizonte, onde morava antes de viajar. “No começo é sempre mais difícil juntar dinheiro, antes de aprender inglês corretamente”, conta.
Com o tempo, porém, as coisas foram melhorando para ela. Atualmente, Regina trabalha como “personal carer” – ela toma conta de uma idosa em Windsor, a uma hora de Londres. Como mora no local de trabalho e sai pouco, ela conta que passou a juntar um dinheiro melhor.
Após juntar algum dinheiro, ela entrou em contato com uma construtora brasileira que anuncia em publicações para brasileiros no Reino Unido, a MRV. Após pedir a sua filha em Belo Horizonte para checar a localização de um empreendimento, ela fechou negócio para comprar um apartamento no bairro Buritis, de classe média-alta, por R$ 53 mil, divididos em 10 prestações (cerca de 1.000 libras por prestação). .
“ Estou muito feliz. Se tivesse ficado no Brasil, não teria conseguido”, diz Regina, que resolveu viajar à Europa após ver vários negócios no Brasil – de loja de calçados à venda de material de construção – darem errado. Com o dinheiro que ganha em seu trabalho atual, ela tem conseguido, além de pagar as prestações do apartamento, mandar algum dinheiro para ajudar sua filha e sua mãe em Belo Horizonte.
Comprar um imóvel no Brasil nunca tinha passado pela cabeça da carioca Gabriela Melfa Balduíno, de 34 anos, até sua última visita ao Rio de Janeiro, no verão passado. “Estava na praia com algumas amigas da construtora onde tinha trabalhado antes de vir para Londres, e elas me falaram desse prédio no Recreio dos Bandeirantes, a 600 metros da praia, com vista para o canal, etc. Fui lá ver, amei o lugar e resolvi comprar”, conta. Com 15 mil libras que tinha guardado em seus nove anos trabalhando em Londres, mais 12 mil libras que conseguiu de empréstimo num banco britânico, com prazo de quatro anos, ela quitou à vista a compra do apartamento, de R$ 140 mil.
“ Se tivesse ficado no Brasil, com meu salário de secretária, não teria conseguido comprar nem a metade da metade do apartamento”, diz. “Fui criada na Abolição, mas após 9 anos em Londres mudei muito, não queria voltar para lá. Queria comprar algo em um lugar bom, mas sabia que os imóveis nessas regiões do Rio são mais caros do que em outro lugar”, afirma.
O apartamento deve ficar pronto em breve, mas Gabriela não tem planos para voltar ao Brasil no curto prazo. “Comprei o apartamento mais para tranquilizar a minha mãe, para dizer para ela que eu volto para o Rio um dia. Mas ainda tenho planos de ficar em Londres por mais uns 4 ou 5 anos”, diz ela, que trabalha como garçonete em Londres. “Enquanto isso, o apartamento vai ficar alugado”, conta.
Representante da construtora MRV em Londres, Dina Marino conta que a maioria das pessoas que a procura pensando em comprar um imóvel no Brasil chegou ao Reino Unido pensando inicialmente em passar pouco tempo, para aprender inglês, mas mudaram a sua motivação ao longo do caminho. “As pessoas se dão conta de que não é tão fácil assim aprender inglês em 3 ou 6 meses, acabam decidindo ficar mais tempo para juntar dinheiro e voltar ao Brasil numa situação melhor. Muitos decidem comprar um apartamento também”, diz.
Comprar no Reino Unido
Se o sonho de comprar um imóvel no Brasil parece não ser nada do outro mundo, para adquirir algo no Reino Unido a situaçao já é bem diferente. Em primeiro lugar, Londres é uma das cidades mais caras do mundo para se morar, e o valor dos imóveis é muitas vezes mais alto do que no Brasil. Um apartamento de um quarto no centro de Londres custa em média 200 mil libras (pouco mais de R$ 1 milhão). Outro problema para os brasileiros que querem investir em imóveis no Reino Unido são as restrições legais: para conseguir financiamento e assinar contratos, a pessoa precisa ter residência permanente no país ou cidadania da União Européia.
Ainda assim, as dificuldades são compensadas, para quem ultrapassa a barreira legal, por financiamentos fáceis e com juros baixíssimos, principalmente na comparação com os juros praticados no Brasil. No Reino Unido é possível financiar a compra de um imóvel em 25 anos, atualmente a juros de cerca de 6% ao ano. Os bancos normalmente oferecem empréstimos de valores equivalentes a até 3 vezes e meia o salário anual da pessoa.
Segundo a corretora imobiliária Lúcia Lehrer, da imobiliária Warwick, de Londres, os brasileiros que a procuram querem comprar imóveis com preços relativamente baixos – “de no máximo 200 mil libras”. “Os imóveis estão muito caros no momento, os brasileiros não têm tanto dinheiro para pagar num imóvel”, diz.
Um dos maiores riscos para quem quer investir em imóveis no Reino Unido é a possibilidade de um crash no mercado – uma queda acentuada nos preços, após a alta dos últimos anos e as recentes elevações das taxas de juros básicos pelo Banco da Inglaterra. Ainda assim, Lúcia considera que, no longo prazo, a compra de um imóvel no país ainda vale a pena, principalmente para quem está pagando aluguel atualmente. “Em lugar de pagar aluguel, você vai pagar as prestações de seu imóvel próprio, então mesmo se houver uma queda de 10% ou 20% nos preços não vai perder dinheiro no longo prazo.”