Trabalhar em um navio de cruzeiro pode ser uma boa opção para quem quer conhecer o mundo e ganhar dinheiro. Saiba as verdades e os mitos da vida a bordo
Por Renata Cristina
"Entrei de gaiato num navio
Entrei, entrei, entrei pelo cano
Entrei de gaiato num navio
Entrei, entrei, entrei por engano".
O som dos Paralamas do Sucesso traduz bem o que rola a bordo em um navio de cruzeiro. Se você acredita que o trabalho em uma dessas embarcações é repleto de alegrias, festas e curtição, não se iluda! A jornada em um barco pode ser de até 20 horas diárias! É, diárias!
Não foi o que imaginava o administrador de empresas Bruno Barreto quando decidiu deixar o Brasil para trabalhar em uma loja de presentes em uma companhia italiana. "A informação que tive é que trabalharia muito, mas não sabia que chegaria a tanto. Em alguns dias, após o expediente, ainda tínhamos que repôr o estoque", recorda.
Barreto optou pelo trabalho com o objetivo de conhecer novos lugares,
pessoas e ganhar dinheiro. "Consegui alcançar algumas metas. Passei pela Grécia, Croácia e Itália. Aprendi muito com as novas experiências e diferentes culturas. Quanto ao dinheiro, acho que me decepcionei um pouco".
Vida a bordo
Para quem vive sobre os sete mares o dia-a-dia é bem diferente. A idéia de casa, comida e roupa lavada é uma realidade, mas sem muitas regalias.
Primeiro, você precisa se acostumar com a idéia de que passará suas noites em uma minúscula cabine. E como se não bastasse, que dividirá esse espaco com alguém. Além disso, terá que se adaptar a algumas regrinhas. Não leve comida para o quarto, não faça barulho, recolha-se até as duas da manhã.
Quanto a comida, não pense em pratos sofisticados. O menu se repete todas as semanas! Outro ponto importante: você tem hora e local apropriado para comer. Perdeu a hora do almoço, infelizmente, vai ter que ficar esperando até o final da tarde. O navio não pode parar para você comprar um lanche no próximo porto.
Na maioria das embarcações, a roupa pode ser lavada gratuitamente, mas por você mesmo. O serviço de quarto só vale para as roupas de cama, ou seja, você vai ter um momento "lava a roupa todo dia."
Para circular pelo navio, os tripulantes precisam estar sempre uniformizados. Ainda assim, as áreas de lazer, como piscina, teatros, restaurantes, cassinos, cinemas, não são acessíveis a todos. Há uma distinção entre as funções e tudo depende do cargo que você ocupa.
Caso você não obedeça as regras: warning! Cartão amarelo com direito a vermelho a partir do terceiro! É isso mesmo! Se você desobedecer, pode ser expulso.
Turismo
O primeiro ponto verificado pelas companhias de cruzeiros para contratar alguém é se o interesse do candidato passa pelo turismo. Portanto, não se esqueça: você está lá a trabalho! É claro que há um interesse natural de conhecer novos lugares, no entanto o seu foco tem que estar no trabalho.
Por isso, fique atento ao seu objetivo. Para algumas funções, não é permitido sequer que você desça do navio. Em geral, os funcionários que trabalham em lojas podem sair durante as paradas turísticas, já que elas são obrigadas a fechar. Já os garçons e camarareiras não têm essa opção.
Para não entrar de gaiato
Procure uma boa companhia. Não acredite em programas de trabalho que oferecem muitas regalias e dinheiro. Quando se candidatar a uma vaga, pergunte sobre as passagens de ida e volta para o Brasil, tempo de contrato, seguro de saúde e boa viagem!
Veja aqui algumas agências especializadas em recrutamento para navios de cruzeiro:
www.cruiseshiprecruitment.co.uk
www.cruiseshipjob.com
www.shipjobs.com
Leia mais:
Diário de um Tripulante
Bruno Barreto
"Imagine morar em uma cidade bem pequena, com 600 habitantes, que apesar de não ser bonita, recebe turistas de todo o mundo, na maioria das vezes o dobro da própria populaçao.
Agora imagine que nessa cidade o prefeito baixou um decreto e que ninguém pode mudar de casa, mesmo que todas elas sejam iguais, feito um pombal. As residências não têm cozinha, nem área de serviço, muito menos sala, ou seja, basicamente um quarto e um banheiro.
Depois de uma louca nos vereadores, eles aprovaram uma lei que não permite comida nas casas, somente água, e deram suporte a uma inspeção quinzenal para assegurar que isso será cumprido à risca. Como se não bastasse, só dois restaurantes tem permissão de funcionar na cidade, e algumas pessoas são autorizadas a ir em uns, outras em outros. Depois que eles são fechados, se você respeita a lei anterior, as opções são: fome ou furto de alimentos.
Falando em Apartheid, alguns habitantes locais são proibidos de frequentarem algumas áreas da sua própria cidade, sem falar nas áreas que podem ser frequentadas com restrição de horário e aquelas que só podem ser visitadas com a roupa autorizada. Agora o mais marcante talvez seja o toque de recolher, que desautoriza os cidadãos a permanecerem na maior parte da cidade depois das duas da manhã.
Imagine agora que devido a uma crise de dinheiro na cidade as empresas locais foram autorizadas a explorar a sua mão de obra ininterruptamente, sem dias de descanso, mas com horas. Além disso, a cidade fica numa área de instabilidade geológica, por isso os terremotos são muito frequentes.
Agora como ponto positvo, pense que todos os habitantes locais tem 20% de desconto nos shoppings, moram em uma cidade que consegue ser vizinha de cidades como Veneza, Atenas, Malta e outras ilhas da Grécia, ao mesmo tempo. Os restaurantes nunca cobram os 10% de serviço, a propósito, nem a comida... Como compensação pela proibição de comida nas casas a cobrança de aluguel foi proibida. Finalmente, apesar de morarem na mesma cidade, a população local é absolutamente heterogênea, o que dá a oportunidade de conhecer a respeito da vida e costumes em muitos países.
Se vocês conseguiram imaginar tudo isso, deu pra der uma idéia de como é a vida a bordo".
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