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Brazil for export
Com o Brasil em alta no Reino Unido, importar produtos do país pode ser uma boa, mas isso depende de um bom capital inicial, espírito empreendedor e muita paciência. Leia aqui sobre quem já importa produtos brasileiros e saiba o que é necessário para começar
Com sandálias Havaianas sendo vendidas em Londres a £ 18, garrafas de cachaça a £ 15 e um simples pão de queijo a £ 2, já deve ter passado pela cabeça de muitos brasileiros vivendo no Reino Unido: por que não trazer esses produtos e vender por aqui, para tirar um bom dinheiro? Muita gente já passou da idéia à prática, e a cada visita ao Brasil volta com a mala forrada de chinelos, garrafas de pinga ou sacos de feijão. Mas além do risco de ser parado na alfândega com os produtos, essa prática talvez ajude a descolar alguns trocados, mas não faz de ninguém um empresário bem-sucedido do comércio exterior...
Para os que têm algum capital para investir, espírito empreendedor, planejamento e muita paciência, a opção é começar um negócio de importação/exportação de produtos brasileiros para o Reino Unido, aproveitando o bom momento da imagem brasileira no país. Mesmo com produtos de baixo valor e em quantidades relativamente pequenas, é possível começar um negócio. Mas vale o alerta de que o processo não é simples, requer algum conhecimento básico de administração e comércio exterior, uma boa dose de dedicação e o retorno nem sempre é tão rápido como o desejado.
Há 4 anos em Londres, onde veio estudar Comércio Exterior, Gabriel Aché Gaya, 25 anos, começou a importar há cerca de três anos polpa de fruta congelada do Brasil para distribuir pela Inglaterra. O negócio pode ser considerado um sucesso, com a popularização cada vez maior dos sucos de frutas tropicais brasileiras, vendidas em centenas de restaurantes e bares em todo o país. Durante o evento Brasil 40°, que expôs produtos brasileiros na Selfridges, em pleno coração londrino, a barraca de frutas montada por Gabriel era uma das mais concorridas, com milhares de sucos vendidos durante as quatro semanas da promoção. O último carregamento trazido por Gabriel do Brasil veio num contêiner com 8 toneladas de polpas congeladas de 25 sabores diferentes.”Nós somos os maiores importadores de polpa de frutas para o Reino Unido”, diz. Mesmo com todos esses sinais positivos, ele adverte: “Até hoje, não tive um retorno financeiro para o meu negócio. Se tiver, isso vai acontecer daqui a uns três anos”, diz. “As pessoas acham que vão vir para cá, começar a importar produtos brasileiros e ficar ricas, mas é complicado, não é tão fácil quanto parece”, conta.
Com o governo brasileiro jogando todas suas fichas no aumento das exportações do país, não faltam incentivos aos empresários –micro, pequenos, médios ou grandes, não importa o tamanho– que queiram investir nesse nicho de negócio. Para os que já têm um negócio no Brasil e querem explorar novos mercados para os seus produtos, uma boa dica são os sites www.apexbrasil.com.br, da Agência de Promoção de Exportaçoes do Brasil, e www.portaldoexportador.com.br, desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Eles trazem desde informações sobre a parte legal de registros e documentação, informações sobre legislação relativa à área, questões relativas à formação de preços para exportação e a câmbio, banco de dados com informações sobre potenciais vendedores e compradores, até guias passo a passo sobre como vender seus produtos ao exterior. Para quem já está no Reino Unido e deseja fazer o caminho inverso, ou seja, importar produtos brasileiros a partir da Europa, o Setor Comercial da Embaixada do Brasil pode oferecer ajuda (secom@brazil.gov.uk). O site www.braziltradenet.gov.br, preparado pelo Ministério das Relações Exteriores, também traz guias passo a passo específicos para diferentes países, além de uma relação de potenciais exportadores à procura de parceiros comerciais e pesquisas de mercado sobre diferentes tipos de produto.
As informações são voltadas para tanto para os grandes exportadores –que vendem milhões em peças automotivas, por exemplo, quanto aos pequeno e micro-empresários que querem abocanhar uma pequena fatia do mercado com produtos de baixo valor. “A balança comercial trabalha com produtos de baixo, médio e alto valor. A soja, por exemplo, é nosso produto de maior volume de exportação. Apesar de não ter valor agregado, é um dos maiores geradores de divisas do Brasil”, diz Alessandro Teixeira, diretor-executivo da Apex. Em sua avaliação, os pequenos empresários, por não trabalharem com produção em larga escala, têm a vantagem de “poder oferecer produtos exclusivos, diferenciados, que têm como destino nichos específicos de mercado no exterior”.
A experiência de Gabriel Gaya mostra que os brasileiros sofrem ainda com alguns outros percalços na hora de estabelecer seu negócio no Reino Unido. “Conseguir empréstimos no Reino Unido é muito difícil para nós brasileiros, por causa de casos de calote no passado, quando brasileiros conseguiam financiamento e fugiam com o dinheiro. Isso tirou nossa credibilidade no mercado financeiro daqui”, diz ele, que contou com a ajuda financeira de sua família. “Se não fosse a ajuda que recebi do meu pai, não teria como me manter aqui”, conta. A falta de planejamento, ele adverte, também é um perigo para quem quer entrar no ramo: “Muitas vezes as pessoas acham que têm um bom capital inicial no Brasil, mas aqui tudo é muito mais caro, o dinheiro guardado no Brasil não vale tanto. As pessoas não contam também com o fato de que o custo de vida no Reino Unido é altíssimo. Conheço gente que quebrou por tirar dinheiro da empresa para as despesas pessoais”, diz.
O certo é que as oportunidades existem e, com a “febre” brasileira atualmente no Reino Unido, este pode ser um bom momento para vender produtos brasileiros no país. Com uma boa dose de planejamento, espírito empreendedor e alguma sorte, é possível começar a espalhar por aí ainda mais os produtos “Made in Brazil”.